Nesta quinta-feira, no Distrito Federal, foi lançado o Projeto Um Computador por Aluno (UCA). O programa acontece através de uma parceria entre a Presidência da República, o Ministério da Educação (MEC) e a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) e visa distribuir laptops para estudantes e professores nas escolas públicas.
No Distrito Federal, estão sendo beneficiados 120 professores e 2.880 estudantes de seis escolas - uma a mais, tendo em vista que o DF teve uma instituição participando da fase pré-piloto do projeto. Além da EC 102 do Recanto das Emas, o UCA atende: CEF Pipiripau II (Planaltina), EC 10 (Ceilândia), EC 01 (Guará), EC 10 (Sobradinho), CEF 01 do Planalto (Plano Piloto).
Atualmente o projeto UCA encontra-se em fase piloto e está acontecendo em 300 instituições públicas de ensino. Entre os objetivos está auxiliar na promoção da inclusão digital, a partir da aquisição e da distribuição de laptops nas escolas públicas. Para viabilizar o projeto estão sendo distribuídos 150 mil laptops nas escolas selecionadas. O MEC é quem irá acompanhar o desenvolvimento do projeto através de um grupo de pesquisadores.
Fonte:http://jbonline.terra.com.br/pextra/2010/09/16/e160919991.asp
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Artigo
O Racismo no Livro didático
Josélia Domingos dos Santos 1
Resumo: Na escola, assim como em toda sociedade brasileira, há uma pluralidade étnica muito grande, sendo esta conseqüência da inserção de negros africanos, portugueses e índios. No entanto, essas etnias são vítimas de imenso preconceito e práticas racistas em todo território brasileiro. Nesse sentido, o presente artigo pretende abordar o racismo que se encontra atualmente nos livros didáticos, a ideologia evidenciada neste recurso, mostrando em especial como os negros são representados nestes livros e como esse problema pode ser combatido. Para isso, foram realizadas pesquisas em textos de diversos teóricos que abordam a temática em questão. Espera-se a partir deste trabalho, que os professores façam uma profunda reflexão sobre o racismo expresso nos livros didáticos, buscando sempre mostrar o valor da raça negra na sala de aula e atenuando as visões distorcidas e equivocadas sobre o negro no Brasil.
Palavras-Chaves: negro, racismo e livro didático.
Introdução
O Brasil é caracterizado como um país multicultural, isso porque no seu processo histórico foram inseridas três raças diferentes: negra, branca e indígena. Esse contato favoreceu a mistura dessas culturas, construindo assim um país totalmente miscigenado.
Por causa da referida mistura de raças, esse contato provocou algumas divergências que afetaram profundamente estas etnias. O fato de uma das raças (branca) se sentir superior às demais, fez com que os indivíduos das outras etnias fossem colocados em situação de inferioridade. Os índios e, em especial, os negros, possuíam posições desfavoráveis aos demais.
________________________
1
Graduada em Pedagogia, UFBA
Os negros, por exemplo, eram colocados como escravos, realizando funções subalternas. As diferenças foram se evidenciando a cada dia, levando a sociedade a desenvolver uma hierarquia de raças que mostrava claramente a distância entre os dominantes e os dominados.
Analisando este contexto, percebe-se que esses acontecimentos iniciais contribuíram para a situação atual do negro. Normalmente, a raça negra vive diariamente sob o universo do preconceito na sociedade, é marginalizada, não possui credibilidade, enfim, é excluída socialmente. Por conta de o racismo estar presente em vários âmbitos da sociedade, normalmente é difundido, mesmo que de forma não explícita, nos meios de comunicação, em departamentos, lojas, instituições sociais, materiais impressos, e em especial nos livros didáticos.
Dessa forma, busca-se através deste artigo, refletir sobre a presença do racismo nos livros didáticos, buscando atenuar essa imagem negativa do negro e propondo meios para combater o problema em questão.
A ideologia dominante no livro didático
O livro didático é um instrumento antigo, alguns estudos mostraram que desde o século XVIII as pessoas já se preocupavam em adotar livros apropriados para a transmissão de conhecimentos. No Brasil, a história do livro didático possui uma ligação com vários decretos. De acordo com Souza e Menegassi (2005) quem controla o livro didático é o Estado, através da legislação criada em 1938, pelo decreto nº 1.006, consolidado em 1945, pelo decreto nº 8.460. Assim, os livros só podem ser adotados com a autorização do Ministério da Educação.
Em 1969 foram formados técnicos com o propósito de aprovar os livros que seriam adotados nas salas de aulas. Feito isso, a atual FAE (Fundação de Assistência ao Estudante) ficou encarregada da tarefa de co-edição, com o intuito de aumentar a produção e distribuição dos livros. Este material começou a ser analisado criticamente com a implantação do PNLD – Programa Nacional do Livro Didático, em 1985 (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2008).
O livro didático no Brasil é visto por Faria (1984), como um recurso pedagógico muito importante no âmbito escolar. Devido a vários fatores, como falta de preparação, tempo e de recursos do professor, este muitas vezes acaba baseando seu programa de ensino no que consta nos livros. Sabemos que o livro didático enquanto recurso pedagógico possui o objetivo de facilitar o trabalho do professor. Entretanto, ele não é visto pelo docente como um elemento estruturante. È visto como um “dogma” em sala de aula, mostrado como verdade absoluta. Isso fica claro nas correções feitas ao “pé da letra” das respostas do livro didático do professor.
O docente ao utilizar somente o livro didático no processo de ensino-aprendizagem dos seus alunos acaba deixando de tirar proveito de aspectos relevantes no desenvolvimento educacional dos mesmos. A autora Rosânea Aparecida de Freitas evidencia esta idéia ao dizer:
O professor que usa o livro didático como único instrumento pedagógico, não utilizando outras metodologias de ensino, não aproveita a vivência do aluno, sua realidade, não desenvolve a criatividade, projetos de ensino mais proveitosos para o aluno, que pretendam valorizar a diversidade, a pluralidade racial e a diferença de experiências sócio-culturais (FREITAS, 1996).
É preciso uma revisão da forma de uso dos livros didáticos. O uso de uma única fonte de informação acaba simplificando a forma do conhecimento em sala de aula. Essa postura metodológica acaba formando nos alunos uma concepção auto-excludente da história, e uma concepção de história como verdade absoluta, e do livro didático como fonte de conhecimento inquestionável, sem falar que acabam reproduzindo as ideologias da classe dominante na sociedade (BRASIL, 2000).
De acordo com Rangel (2001 apud Souza e Menegassi), o livro didático deveria, em lugar de reproduzir a ideologia dominante, “contribuir efetivamente para a consecução dos objetivos do ensino, tais como vêem definidos em documentos oficiais como os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais, assim é necessário que ele abstenha-se de preconceitos discriminatórios e mais do que isso, seja capaz de combater a discriminação sempre que oportuno”, isto é, que estimule a cidadania, evidencie as dinâmicas sociais em toda sua complexidade, visando produzir efeitos contra qualquer forma de preconceitos e discriminações no contexto escolar ou fora dele.
A representação do negro no livro didático
O livro didático traz muitas formas negativas da imagem do negro. Essas formas apresentam-se através de ilustrações, linguagem verbal escrita, ou pela associação de uma e de outra, mantendo uma “linha” divisória entre negros e brancos, com benefícios convertidos para estes. Os negros estão apresentados nesses livros, na maioria das situações, como um problema social. As crianças estão abandonadas, pedindo esmolas, praticando furtos. Tanto as crianças quanto os adultos são apresentados sem relação afetiva, como por exemplo, familiares.
Pinto (1987) chama atenção sobre estas imagens e representações distorcidas presentes na nossa sociedade a respeito da raça negra. A autora enfatiza claramente esta questão:
(...). O negro é desvalorizado, tanto do ponto de vista físico, intelectual, cultural, como moral; a cor, e os traços fenotipicamente negros são considerados antiestéticos; a cultura e os costumes africanos são reputados da sua inteligência e uma descrença na sua capacidade; coloca-se em dúvida sua probidade moral e ética (PINTO, 1987).
A presença de formas racistas e estereotipadas pode ser constatada no contexto escolar através das referências deformadas por ilustrações preconceituosas e caricaturadas dos negros repassadas aos alunos através do livro didático. Podemos verificar claramente essa questão através da análise destes livros.
Uma manifestação clara da discriminação ao negro no livro didático encontra-se presente no livro de Língua Portuguesa, A Palavra é Português da 5ª série do Ensino Fundamental II, das autoras Graça Proença e Regina Horta, da Editora Ática. Encontramos fundamentos para tal questão nos autores Renilson Menegassi e Neucimara Souza, ao dizerem que:
A manifestação da presença da discriminação ao negro, na coleção A palavra é português, (5ª série, página 45) aparece através do diálogo entre um garoto branco e um negro, em que aparece a frase: “Este é Tiziu!”. O substantivo Tiziu se refere ao garoto negro, como nome próprio, segundo as explicações do livro didático. De acordo com o Dicionário Aurélio (1999), o termo Tiziu corresponde a uma ave passeriforme, cujo macho é preto–azulado. Assim, é possível observar que as autoras e o ilustrador do livro didático estabelecem uma relação entre o garoto negro e o pássaro, ao invés de lhe dar um nome como, João, André etc. Salienta-se que a forma como a ilustração e o apontamento da regra de grafia do substantivo próprio são empregados deixa evidente que o menino negro foi literalmente utilizado como uma “coisa” que serve de referência a outra. Isto é visível ao se perceber a denominação que é dada a substantivo: “Tiziu: nome de um ser da espécie ‘pessoa”. O exemplo utilizado poderia muito bem ser empregado com o menino branco, que também tem um nome diferente “Socó”. Por que ele não foi utilizado como referência? Por que o nome do menino branco não foi designado pelas autoras como “Socó: nome de um ser da espécie ‘pessoa’”? Fica saliente que o racismo marcado determina que, no exemplo apresentado, Tiziu é uma pessoa, como se o negro não o fosse (SOUZA e MENEGASSI, 2005).
O negro representado dessa forma no livro didático acaba gerando um efeito negativo na construção da identidade de todos pertencentes à raça. Quando as crianças negras começam a aprender sobre o mundo e a escola e não se vêem nos livros, ou são vistas de forma estereotipada, dificilmente terão uma visão positiva e consciente do que realmente são. Silva (1995) reforça essa idéia ao dizer:
O livro didático, de modo geral, omite o processo histórico–cultural, o cotidiano e as experiências dos segmentos subalternos da sociedade, como o índio, o negro, a mulher, entre outros. Em relação ao segmento negro, sua quase total ausência nos livros e a sua rara presença de forma estereotipada concorrem em grande parte para a fragmentação da sua identidade e auto-estima (SILVA, 1995).
Um dos papéis do livro didático é ajudar as crianças a construírem sua identidade, a valorização da sua cultura, os seus valores éticos, morais, entre outros. Silenciar sobre a importância da raça negra na constituição do país, os seus costumes, a sua economia, tendo como suporte esta ferramenta, acaba fazendo com que a cultura negra fique oculta, esquecida (SILVA, 1995).
Os livros didáticos reforçam os estigmas: ilustrações mostram crianças brancas, e o conteúdo geralmente ignora a riqueza e a história da cultura africana. O negro é invisível. Com isso, crianças negras ficam sem referenciais.
É evidente que, ao omitir a presença do negro como participante ativo em nossa sociedade, ou enxergá-lo como folclórico e exótico, o livro didático contribui para a sedimentação da exclusão social desse contingente significativo da população brasileira. Isso acaba acontecendo porque a criança não-branca simplesmente não se vê inserida no contexto sócio-cultural a que pertence (SILVA, 1995).
A inexistência de referenciais positivos à auto-estima da criança negra poderá prejudicá-la na formação da sua personalidade ou até mesmo dificultar o seu desempenho escolar. A criança pode adotar em alguns momentos uma postura introvertida no contato com as crianças brancas, por medo de ser rejeitada ou ridicularizada por estas. Elas foram condicionadas a se identificarem como pessoas feias, sem inteligência, incapazes, a não gostarem da sua cor de pele, nem dos seus cabelos.
O livro didático, ao omitir as questões étnico-culturais, acaba por introduzir na criança não-branca um sentimento de rejeição a sua identidade. Dessa forma, a criança estereotipada (negra) não encontra parâmetros suficientes para inserir-se de forma positiva na sociedade. Silva (2001) reafirma essa questão:
Além da omissão e distorção histórico-cultural, a presença dos estereótipos no livro didático e outros materiais pedagógicos, podem determinar a rejeição inconsciente a um saber que humilha. Em uma sociedade onde dois mundos sociais em contato têm relações político, econômico e cultural desiguais, inexiste o reconhecimento social das diferenças (...). Os estereótipos, ou seja, clichês, as imagens cristalizadas ou idealizadas de indivíduos ou grupos de indivíduos, cumprem um papel social de produzir os preconceitos, as opiniões e conceitos baseados em dados não comprováveis da realidade do outro, colocando esse outro sob rejeição ou suspeita. Por outro lado, a vítima do preconceito pode vir a internalizá-lo, auto-rejeitando-se e rejeitando àquele que se lhe assemelha (SILVA, 2001).
Infelizmente, o livro didático reproduz a ideologia da inferiorização das diferenças étnico-culturais e raciais através dos estereótipos. A conseqüência disso é a desagregação da identidade étnico-cultural.
O livro didático é um dos recursos pedagógicos mais utilizados em sala de aula. Cabe ao professor ser o mediador no processo de reapropriação e reinvenção do conhecimento. Analisando criticamente os textos e as ilustrações estereotipadas nos livros, reconhecendo o passado histórico e a cultura dos diversos povos, o professor pode ajudar na desconstrução da discriminação do negro no livro didático.
Considerações finais
A criação de uma política educacional que tenha por objetivo atenuar o preconceito racial no livro didático, libertando este recurso da visão que desconhece a existência de uma pluralidade étnica e cultural no território brasileiro, só poderá ajudar na formação de uma sociedade mais justa e igualitária.
Se as imagens reproduzidas nos livros didáticos continuarem a mostrar uma imagem do negro estereotipada, numa condição desfavorável, fortalecerá ainda mais o racismo. Para que este problema seja atenuado na sociedade brasileira é necessário que o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana esteja presente no currículo de todas as escolas, em todos os níveis de ensino. Os livros devem contemplar a participação do povo negro na construção da riqueza nacional, além de retratar todas as suas lutas e conquistas. É preciso que o professor utilize o livro didático como um elemento estruturante na sala de aula, despertando a consciência política dos seus educandos, incentivando-os e estimulando-os nos níveis cultural, físico e cognitivo. O professor deve abordar a diversidade cultural, fortalecer a identidade negra, reconhecer as diferenças culturais de cada indivíduo, buscando sempre uma sociedade mais justa e democrática.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Programa nacional do livro didático: histórico e perspectivas. Brasília: MEC, 2000.
FARIA, A. L. G. Ideologia no livro didático. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1984.
FREITAS, Rosânea Aparecida de. O livro didático de Língua Portuguesa. Livro didático: monotonia ou necessidade. 1996. Disponível em:< http://www.letras.ufmg.br/site/publicacoes/download/livrodidatico.pdf>. Acesso em 10 de maio de 2008.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Programas. Livro Didático – PNLD. Guia do Livro Didático. 2008. Disponível em: http://www.fnde.gov/programas/pnld.guia.htm. Acesso em 14 de maio de 2008.
PINTO, Regina P. Educação do negro: uma revisão da bibliografia. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n. 62, p. 3-34, ago 1987a.
SILVA, Ana Célia. A discriminação do negro no livro didático. Salvador: CED – Centro Editorial Didático e CEAO - Centro de Estudos Afro - Orientais, 1995.
SILVA, Ana Célia. Desconstruindo a discriminação do negro no livro didático. Salvador: EDUFBA. 2001. p. 94.
SOUZA, Neucimara Ferreira de, MENEGASSI, Renilson José. A visão do negro no livro didático de Português. 2005. Disponível em:< http://www.espacoacademico.com.br/047/47cmenegassisouza.htm>. Acesso em 21 de abril de 2008.
Josélia Domingos dos Santos 1
Resumo: Na escola, assim como em toda sociedade brasileira, há uma pluralidade étnica muito grande, sendo esta conseqüência da inserção de negros africanos, portugueses e índios. No entanto, essas etnias são vítimas de imenso preconceito e práticas racistas em todo território brasileiro. Nesse sentido, o presente artigo pretende abordar o racismo que se encontra atualmente nos livros didáticos, a ideologia evidenciada neste recurso, mostrando em especial como os negros são representados nestes livros e como esse problema pode ser combatido. Para isso, foram realizadas pesquisas em textos de diversos teóricos que abordam a temática em questão. Espera-se a partir deste trabalho, que os professores façam uma profunda reflexão sobre o racismo expresso nos livros didáticos, buscando sempre mostrar o valor da raça negra na sala de aula e atenuando as visões distorcidas e equivocadas sobre o negro no Brasil.
Palavras-Chaves: negro, racismo e livro didático.
Introdução
O Brasil é caracterizado como um país multicultural, isso porque no seu processo histórico foram inseridas três raças diferentes: negra, branca e indígena. Esse contato favoreceu a mistura dessas culturas, construindo assim um país totalmente miscigenado.
Por causa da referida mistura de raças, esse contato provocou algumas divergências que afetaram profundamente estas etnias. O fato de uma das raças (branca) se sentir superior às demais, fez com que os indivíduos das outras etnias fossem colocados em situação de inferioridade. Os índios e, em especial, os negros, possuíam posições desfavoráveis aos demais.
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1
Graduada em Pedagogia, UFBA
Os negros, por exemplo, eram colocados como escravos, realizando funções subalternas. As diferenças foram se evidenciando a cada dia, levando a sociedade a desenvolver uma hierarquia de raças que mostrava claramente a distância entre os dominantes e os dominados.
Analisando este contexto, percebe-se que esses acontecimentos iniciais contribuíram para a situação atual do negro. Normalmente, a raça negra vive diariamente sob o universo do preconceito na sociedade, é marginalizada, não possui credibilidade, enfim, é excluída socialmente. Por conta de o racismo estar presente em vários âmbitos da sociedade, normalmente é difundido, mesmo que de forma não explícita, nos meios de comunicação, em departamentos, lojas, instituições sociais, materiais impressos, e em especial nos livros didáticos.
Dessa forma, busca-se através deste artigo, refletir sobre a presença do racismo nos livros didáticos, buscando atenuar essa imagem negativa do negro e propondo meios para combater o problema em questão.
A ideologia dominante no livro didático
O livro didático é um instrumento antigo, alguns estudos mostraram que desde o século XVIII as pessoas já se preocupavam em adotar livros apropriados para a transmissão de conhecimentos. No Brasil, a história do livro didático possui uma ligação com vários decretos. De acordo com Souza e Menegassi (2005) quem controla o livro didático é o Estado, através da legislação criada em 1938, pelo decreto nº 1.006, consolidado em 1945, pelo decreto nº 8.460. Assim, os livros só podem ser adotados com a autorização do Ministério da Educação.
Em 1969 foram formados técnicos com o propósito de aprovar os livros que seriam adotados nas salas de aulas. Feito isso, a atual FAE (Fundação de Assistência ao Estudante) ficou encarregada da tarefa de co-edição, com o intuito de aumentar a produção e distribuição dos livros. Este material começou a ser analisado criticamente com a implantação do PNLD – Programa Nacional do Livro Didático, em 1985 (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2008).
O livro didático no Brasil é visto por Faria (1984), como um recurso pedagógico muito importante no âmbito escolar. Devido a vários fatores, como falta de preparação, tempo e de recursos do professor, este muitas vezes acaba baseando seu programa de ensino no que consta nos livros. Sabemos que o livro didático enquanto recurso pedagógico possui o objetivo de facilitar o trabalho do professor. Entretanto, ele não é visto pelo docente como um elemento estruturante. È visto como um “dogma” em sala de aula, mostrado como verdade absoluta. Isso fica claro nas correções feitas ao “pé da letra” das respostas do livro didático do professor.
O docente ao utilizar somente o livro didático no processo de ensino-aprendizagem dos seus alunos acaba deixando de tirar proveito de aspectos relevantes no desenvolvimento educacional dos mesmos. A autora Rosânea Aparecida de Freitas evidencia esta idéia ao dizer:
O professor que usa o livro didático como único instrumento pedagógico, não utilizando outras metodologias de ensino, não aproveita a vivência do aluno, sua realidade, não desenvolve a criatividade, projetos de ensino mais proveitosos para o aluno, que pretendam valorizar a diversidade, a pluralidade racial e a diferença de experiências sócio-culturais (FREITAS, 1996).
É preciso uma revisão da forma de uso dos livros didáticos. O uso de uma única fonte de informação acaba simplificando a forma do conhecimento em sala de aula. Essa postura metodológica acaba formando nos alunos uma concepção auto-excludente da história, e uma concepção de história como verdade absoluta, e do livro didático como fonte de conhecimento inquestionável, sem falar que acabam reproduzindo as ideologias da classe dominante na sociedade (BRASIL, 2000).
De acordo com Rangel (2001 apud Souza e Menegassi), o livro didático deveria, em lugar de reproduzir a ideologia dominante, “contribuir efetivamente para a consecução dos objetivos do ensino, tais como vêem definidos em documentos oficiais como os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais, assim é necessário que ele abstenha-se de preconceitos discriminatórios e mais do que isso, seja capaz de combater a discriminação sempre que oportuno”, isto é, que estimule a cidadania, evidencie as dinâmicas sociais em toda sua complexidade, visando produzir efeitos contra qualquer forma de preconceitos e discriminações no contexto escolar ou fora dele.
A representação do negro no livro didático
O livro didático traz muitas formas negativas da imagem do negro. Essas formas apresentam-se através de ilustrações, linguagem verbal escrita, ou pela associação de uma e de outra, mantendo uma “linha” divisória entre negros e brancos, com benefícios convertidos para estes. Os negros estão apresentados nesses livros, na maioria das situações, como um problema social. As crianças estão abandonadas, pedindo esmolas, praticando furtos. Tanto as crianças quanto os adultos são apresentados sem relação afetiva, como por exemplo, familiares.
Pinto (1987) chama atenção sobre estas imagens e representações distorcidas presentes na nossa sociedade a respeito da raça negra. A autora enfatiza claramente esta questão:
(...). O negro é desvalorizado, tanto do ponto de vista físico, intelectual, cultural, como moral; a cor, e os traços fenotipicamente negros são considerados antiestéticos; a cultura e os costumes africanos são reputados da sua inteligência e uma descrença na sua capacidade; coloca-se em dúvida sua probidade moral e ética (PINTO, 1987).
A presença de formas racistas e estereotipadas pode ser constatada no contexto escolar através das referências deformadas por ilustrações preconceituosas e caricaturadas dos negros repassadas aos alunos através do livro didático. Podemos verificar claramente essa questão através da análise destes livros.
Uma manifestação clara da discriminação ao negro no livro didático encontra-se presente no livro de Língua Portuguesa, A Palavra é Português da 5ª série do Ensino Fundamental II, das autoras Graça Proença e Regina Horta, da Editora Ática. Encontramos fundamentos para tal questão nos autores Renilson Menegassi e Neucimara Souza, ao dizerem que:
A manifestação da presença da discriminação ao negro, na coleção A palavra é português, (5ª série, página 45) aparece através do diálogo entre um garoto branco e um negro, em que aparece a frase: “Este é Tiziu!”. O substantivo Tiziu se refere ao garoto negro, como nome próprio, segundo as explicações do livro didático. De acordo com o Dicionário Aurélio (1999), o termo Tiziu corresponde a uma ave passeriforme, cujo macho é preto–azulado. Assim, é possível observar que as autoras e o ilustrador do livro didático estabelecem uma relação entre o garoto negro e o pássaro, ao invés de lhe dar um nome como, João, André etc. Salienta-se que a forma como a ilustração e o apontamento da regra de grafia do substantivo próprio são empregados deixa evidente que o menino negro foi literalmente utilizado como uma “coisa” que serve de referência a outra. Isto é visível ao se perceber a denominação que é dada a substantivo: “Tiziu: nome de um ser da espécie ‘pessoa”. O exemplo utilizado poderia muito bem ser empregado com o menino branco, que também tem um nome diferente “Socó”. Por que ele não foi utilizado como referência? Por que o nome do menino branco não foi designado pelas autoras como “Socó: nome de um ser da espécie ‘pessoa’”? Fica saliente que o racismo marcado determina que, no exemplo apresentado, Tiziu é uma pessoa, como se o negro não o fosse (SOUZA e MENEGASSI, 2005).
O negro representado dessa forma no livro didático acaba gerando um efeito negativo na construção da identidade de todos pertencentes à raça. Quando as crianças negras começam a aprender sobre o mundo e a escola e não se vêem nos livros, ou são vistas de forma estereotipada, dificilmente terão uma visão positiva e consciente do que realmente são. Silva (1995) reforça essa idéia ao dizer:
O livro didático, de modo geral, omite o processo histórico–cultural, o cotidiano e as experiências dos segmentos subalternos da sociedade, como o índio, o negro, a mulher, entre outros. Em relação ao segmento negro, sua quase total ausência nos livros e a sua rara presença de forma estereotipada concorrem em grande parte para a fragmentação da sua identidade e auto-estima (SILVA, 1995).
Um dos papéis do livro didático é ajudar as crianças a construírem sua identidade, a valorização da sua cultura, os seus valores éticos, morais, entre outros. Silenciar sobre a importância da raça negra na constituição do país, os seus costumes, a sua economia, tendo como suporte esta ferramenta, acaba fazendo com que a cultura negra fique oculta, esquecida (SILVA, 1995).
Os livros didáticos reforçam os estigmas: ilustrações mostram crianças brancas, e o conteúdo geralmente ignora a riqueza e a história da cultura africana. O negro é invisível. Com isso, crianças negras ficam sem referenciais.
É evidente que, ao omitir a presença do negro como participante ativo em nossa sociedade, ou enxergá-lo como folclórico e exótico, o livro didático contribui para a sedimentação da exclusão social desse contingente significativo da população brasileira. Isso acaba acontecendo porque a criança não-branca simplesmente não se vê inserida no contexto sócio-cultural a que pertence (SILVA, 1995).
A inexistência de referenciais positivos à auto-estima da criança negra poderá prejudicá-la na formação da sua personalidade ou até mesmo dificultar o seu desempenho escolar. A criança pode adotar em alguns momentos uma postura introvertida no contato com as crianças brancas, por medo de ser rejeitada ou ridicularizada por estas. Elas foram condicionadas a se identificarem como pessoas feias, sem inteligência, incapazes, a não gostarem da sua cor de pele, nem dos seus cabelos.
O livro didático, ao omitir as questões étnico-culturais, acaba por introduzir na criança não-branca um sentimento de rejeição a sua identidade. Dessa forma, a criança estereotipada (negra) não encontra parâmetros suficientes para inserir-se de forma positiva na sociedade. Silva (2001) reafirma essa questão:
Além da omissão e distorção histórico-cultural, a presença dos estereótipos no livro didático e outros materiais pedagógicos, podem determinar a rejeição inconsciente a um saber que humilha. Em uma sociedade onde dois mundos sociais em contato têm relações político, econômico e cultural desiguais, inexiste o reconhecimento social das diferenças (...). Os estereótipos, ou seja, clichês, as imagens cristalizadas ou idealizadas de indivíduos ou grupos de indivíduos, cumprem um papel social de produzir os preconceitos, as opiniões e conceitos baseados em dados não comprováveis da realidade do outro, colocando esse outro sob rejeição ou suspeita. Por outro lado, a vítima do preconceito pode vir a internalizá-lo, auto-rejeitando-se e rejeitando àquele que se lhe assemelha (SILVA, 2001).
Infelizmente, o livro didático reproduz a ideologia da inferiorização das diferenças étnico-culturais e raciais através dos estereótipos. A conseqüência disso é a desagregação da identidade étnico-cultural.
O livro didático é um dos recursos pedagógicos mais utilizados em sala de aula. Cabe ao professor ser o mediador no processo de reapropriação e reinvenção do conhecimento. Analisando criticamente os textos e as ilustrações estereotipadas nos livros, reconhecendo o passado histórico e a cultura dos diversos povos, o professor pode ajudar na desconstrução da discriminação do negro no livro didático.
Considerações finais
A criação de uma política educacional que tenha por objetivo atenuar o preconceito racial no livro didático, libertando este recurso da visão que desconhece a existência de uma pluralidade étnica e cultural no território brasileiro, só poderá ajudar na formação de uma sociedade mais justa e igualitária.
Se as imagens reproduzidas nos livros didáticos continuarem a mostrar uma imagem do negro estereotipada, numa condição desfavorável, fortalecerá ainda mais o racismo. Para que este problema seja atenuado na sociedade brasileira é necessário que o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana esteja presente no currículo de todas as escolas, em todos os níveis de ensino. Os livros devem contemplar a participação do povo negro na construção da riqueza nacional, além de retratar todas as suas lutas e conquistas. É preciso que o professor utilize o livro didático como um elemento estruturante na sala de aula, despertando a consciência política dos seus educandos, incentivando-os e estimulando-os nos níveis cultural, físico e cognitivo. O professor deve abordar a diversidade cultural, fortalecer a identidade negra, reconhecer as diferenças culturais de cada indivíduo, buscando sempre uma sociedade mais justa e democrática.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Programa nacional do livro didático: histórico e perspectivas. Brasília: MEC, 2000.
FARIA, A. L. G. Ideologia no livro didático. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1984.
FREITAS, Rosânea Aparecida de. O livro didático de Língua Portuguesa. Livro didático: monotonia ou necessidade. 1996. Disponível em:< http://www.letras.ufmg.br/site/publicacoes/download/livrodidatico.pdf>. Acesso em 10 de maio de 2008.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Programas. Livro Didático – PNLD. Guia do Livro Didático. 2008. Disponível em: http://www.fnde.gov/programas/pnld.guia.htm. Acesso em 14 de maio de 2008.
PINTO, Regina P. Educação do negro: uma revisão da bibliografia. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n. 62, p. 3-34, ago 1987a.
SILVA, Ana Célia. A discriminação do negro no livro didático. Salvador: CED – Centro Editorial Didático e CEAO - Centro de Estudos Afro - Orientais, 1995.
SILVA, Ana Célia. Desconstruindo a discriminação do negro no livro didático. Salvador: EDUFBA. 2001. p. 94.
SOUZA, Neucimara Ferreira de, MENEGASSI, Renilson José. A visão do negro no livro didático de Português. 2005. Disponível em:< http://www.espacoacademico.com.br/047/47cmenegassisouza.htm>. Acesso em 21 de abril de 2008.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
Saudade do meu blog antigo
Ai, que saudades do meu blog antigo. Quando eu penso que ele sumiu eu fico tão triste que dá até vontade de chorar
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